O Jardim das Poesias

A poesia me acompanha desde cedo, mas não como uma lição de escola. Ela chega em silêncio, como quem se senta ao meu lado num banco de praça, sem pressa de dizer nada. Percebo que não é apenas um conjunto de versos — é um modo de olhar.

Quando leio, sinto que a poesia se abre em lacunas, como portas que esperam pela minha chave. Não está toda escrita; cabe a mim preenchê-la com a minha interpretação, com os meus próprios sentimentos. É nesse espaço vazio que mora a inspiração.

Descubro que poesia não é só aquilo que vejo impresso em livros. Ela é o lirismo que escapa de uma fotografia antiga, o arrepio ao ouvir uma música que não sei explicar, o silêncio entre duas falas de uma peça de teatro. Às vezes está numa tela de museu, outras vezes numa conversa simples que termina em riso.

A poesia não se impõe como um texto argumentativo, cheio de regras e estruturas. Ela dança, paira no ar, respira ao meu lado. É como um clima que envolve tudo: leveza, sensibilidade, interpretação.

E penso: cada vez que assisto a um filme, cada vez que contemplo uma pintura, estou diante de poesia. Não importa se o artista a nomeou assim ou não. O que importa é o que sinto, o que se acende dentro de mim.

Por isso, quando me perguntam o que é poesia brasileira, respondo sem hesitar: é toda obra, todo gesto, toda criação que consegue despertar esse lirismo em mim. A poesia é mais que um gênero literário. É um estado de alma.

                                                      

              O Manacá-da-serra

Ah, flor que desabrocha na serra em esplendor,
Em Campos de Jordão, é a flor do amor.
No alto da serra, onde o manacá floresce,         
Na montanha magnífica, a majestade permanece.
Sua cor e perfume, a todos enlouquece,
Em seu encanto, a natureza se engrandece.
No topo da serra, o manacá resplandece,
Como joia da serra, seu fulgor aparece.
Sua graça única, o coração enternece,
Sob seu encanto, a natureza se envaidece.
Na paisagem serena, onde a paz se estabelece,
Manacá-da-serra que a natureza oferece.
À sua sombra, Campos do Jordão agradece!


Maurício de Souza Lino,
Bibliotecário,
Historiador
Professor,
Escritor.

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